Por Robert Janssen*

A jornada do empreendedorismo é repleta de incertezas e riscos para um empreendedor, especialmente para os inexperientes. Não existem maneiras diretas de construir um negócio, pois a dinâmica muda com muita frequência, em um ambiente de negócios complexo dentro de contextos onde a velocidade da mudança é uma constante.

Empreender exige grandes sacrifícios e desprendimento, enquanto determina uma atitude de resiliência e foco. Durante a fase de validação de produto e mercado, se está ainda empreendendo em diversas atividades que supostamente podem levar a uma consolidação de produto. Uma vez que se consegue chegar a um nível mínimo de maturidade e tração, o verbo a ser conjugado muda de empreender para “empresariar”, pois é necessário entender as nuances para construir uma empresa e de administrar um negócio.

Infelizmente, as instituições com foco na formação profissional apenas ensinam a teoria dos negócios, mas falham em não desenvolver as práticas e aptidões de gestão, como negociações de contratos, aquisição de talentos, estabelecimento de parcerias, construção de governança ou mesmo a compreensão de como as empresas realmente funcionam.

Neste contexto, a figura de um mentor (ou melhor, de um bom mentor) é de grande valia, pois sua experiência em campo colabora para que a caminhada do jovem empreendedor seja mais confiante, prevenindo erros e aumentando a chance de acertos, além de aumentar o networking e acesso ao mercado.

Abaixo relacionamos alguns dos principais fatores críticos de sucesso para uma mentoria qualificada e eficaz.

 

A necessidade de mentores de startups “aculturados” para impulsionar a jornada empreendedora

Todo empreendedor precisa encontrar mentores para apoiar a sua jornada e ajudar a preencher as lacunas necessárias, oferecer uma perspectiva diferente e proporcionar a transmissão de lições de negócios, para que se tenha a melhor chance possível de tracionar rapidamente com sucesso.

Não resta dúvida que um mentor precisa ter atributos, experiências e vivências relevantes para os projetos que vai aconselhar. Mas é vital para o sucesso de uma jornada de aceleração que o mentor também conheça o mindset acelerado. Vive-se uma nova era exponencial, decorrente da transformação digital, e isso automaticamente gera uma expectativa de escalabilidade com velocidade para os projetos que são os principais alvos de investimento.

Um mentor para ter efetividade no seu aconselhamento, precisa conhecer o contexto de aceleração e escalabilidade. Precisa saber também aplicar as ferramentas usadas atualmente para planejamento, como o business model generation (canvas) e o enterprise scrum para desenvolvimento rápido de negócios. E não menos importante, o mentor também precisa conhecer a realidade e dinâmicas exigidas na aplicação de uma estratégia de crescimento inorgânico e capacidade de atrair investidores para o projeto.

 

O primeiro passo para escolher um mentor deve ser entendimento e alinhamento dos valores

É necessário ter empatia na relação entre empreendedor e mentor, afinal quem vai querer trabalhar com alguém com qual não se tem um mínimo de afinidade. Porém, para que a empatia esteja sempre presente ao longo da jornada, é fundamental que se entenda os respectivos valores, para  assim se ter um alinhamento das expectativas e atitudes. Uma caminhada sem este alinhamento, corre o risco de ser interrompida no meio do caminho. Portanto, antes de qualquer discussão em torno do projeto, é importante buscar este alinhamento. Uma relação que se inicia com esta base como sustentação tem melhores chances de produzir o resultado esperado.

 

Um mentor de startups orienta, não determina, como você administra sua empresa

Um mentor não tem poder executivo ou qualquer envolvimento de execução em sua startup. Ele é um terceiro que usa sua experiência e conhecimento para fornecer sugestões, construir cenários alternativos e dar orientações ao empreendedor.

Somente o empreendedor, deve tomar suas próprias decisões finais, especialmente nos estágios iniciais de desenvolvimento das startups. No momento em que o mentor toma decisões pelo empreendedor, é hora de repensar o relacionamento.

 

Um mentor de startup não é pago, se for necessário ter mais comprometimento então o mentor deve readequar sua condição para advisor (consultor)

Este é o princípio máximo de ser um mentor, querer devolver à sociedade ajudando os outros livremente.

Isso só muda se a função de trabalho for alterada, e for sugerido mais comprometimento, por exemplo, envolver o mentor para fazer algum trabalho de consultoria que determine uma dedicação maior de horas para o projeto. Isto normalmente ocorre quando o empreendedor identifica a possibilidade de grande impacto no projeto a partir da contribuição do mentor.  Neste caso, deve-se formalizar a relação através de um contrato de vesting ou consultoria.

 


Um mentor de startups não é apenas um amigo, e sim um colaborador estratégico com foco no projeto e nos fundadores da startup

Um mentor de startups não é apenas uma pessoa com quem se conversa e fofoca, mas uma pessoa com qual se conta no início de uma jornada de aceleração. Um mentor é orientado por objetivos, para auxiliar no aumento de tração e expansão dos negócios.

Como mentor, é imperativo definir objetivos para todas as sessões e terminar com um resumo das ações de acompanhamento em que o empreendedor precisa trabalhar. Só assim se consegue ver o valor da orientação.

 

 

Um mentor de startup deve ouvir mais do que falar

Mentores eficazes são aqueles que ouvem atentamente o empreendedor para ter um entendimento mínimo que o permita usar suas experiências anteriores para orientar e transmitir lições para o empreendedor.

 

Um mentor de startup vai além dos negócios e entende você como pessoa

Todo empreendedor é único, com suas próprias peculiaridades, caráter, pontos fortes e fracos. Mentores eficazes são aqueles que se dão ao trabalho de compreender o empreendedor e reconhecer onde estão seus sonhos e objetivos. Isso é importante para que eles possam oferecer sugestões que sejam adequadas ao seu personagem, em vez de levá-lo a uma estrada em que o empreendedor se sinta desconfortável.

Os melhores mentores são aqueles que tem um verdadeiro cuidado com o empreendedor, pois acabam tendo uma postura fraternal. Pois são os mentores que incentivam quando o empreendedor está para baixo. Isto faz parte do conjunto da mentoria e é um indicador de que existiu uma troca de valor.

 

Um mentor de startups sempre mantém as informações confidenciais

Uma relação entre mentor e empreendedor é privilegiada. A informação deve ser mantida na maior confiança. Mesmo as negociações que são consideradas confidenciais nunca devem ser compartilhadas. Isto, na realidade faz parte do contexto do entendimento e alinhamento de valores pontuado anteriormente. A relação de confiança entre empreendedor e mentor é comparado ao mesmo regime confidencialidade que existe entre médico-paciente ou advogado-cliente.

 

Pensamentos finais

Encontrar um bom mentor de startups com experiência relevante, e que também cuida para que se consiga ter sucesso sem restrições, é um desafio. Mas o investimento de tempo na qualificação e seleção de mentores, é muito importante para o sucesso de uma jornada empreendedora ou aceleração. Uma mentoria, alinhada, engajada e relevante muitas vezes acaba se tornando o grande fiel da balança.

Portanto, no processo de qualificação, adote os mesmos procedimentos de quando se contrata colaboradores, ou seja, busque obter referências de outras pessoas com as quais se tem um alinhamento de valores, e se certifique que existe potencial de construção de uma relação profícua e eficaz.

 

*Robert Janssen é CEO da aceleradora OBr.global além de empreendedor com
mais de 30 anos de sucesso no desenvolvimento de negócios internacionais, com foco especial em todos os setores de TI, Educação, Energia, Biotecnologia e Varejo.