Empresa recebe investimento de fundo de capital de risco para competir em setor de alta tecnologia que movimenta US$ 8 bi ao ano, hoje dominado por canadenses

 

Uma empresa que começou como hobby em Campinas é investida por fundo de capital de risco para ingressar no mercado mundial de simuladores de voo. Será a primeira companhia brasileira nesse setor de alta tecnologia, que movimenta R$ 24 bilhões (US$ 8 bilhões) anualmente e hoje é dominado por companhias de países desenvolvidos.

A Virtual Avionics (VA) recebeu um investimento do Fundo Aeroespacial para fabricar e comercializar cockpits para treinamento de pilotos. Conhecidos como FTDs (Flight Training Devices, ou dispositivos de treinamento de voo), esses equipamentos são muito mais baratos de construir e operar do que os chamados simuladores completos com movimento (FFS), todos feitos hoje por empresas estrangeiras. Os FTDs vêm sendo cada vez mais utilizados por empresas aéreas para a formação inicial dos pilotos.

A empresa de Campinas foi uma das duas únicas start-ups selecionadas pela Embraer em 2017 para receber aporte do fundo, que tem capital de R$ 131 milhões e participação ativa da fabricante brasileira de aeronaves. A Embraer está de olho em simuladores para seus jatos E-195, usados no Brasil sobretudo pela Azul Linhas Aéreas e por empresas do mundo inteiro em voos regionais.
Com os FTDs, a Virtual Avionics espera ganhar clientes atuando inicialmente num nicho que as grandes empresas, como a canadense CAE – que detém mais de 50% do mercado global de simuladores – vêm deixando desocupado: o de equipamentos que proporcionam experiência de voo com realismo e confiabilidade, mas sem a necessidade de movimento como o das cabines de FFS.

Segundo Amauri Sousa, fundador e CEO da VA, dispositivos desse tipo serão cada vez mais necessários, num momento em que as
empresas aéreas se esforçam para reduzir custos ao mesmo tempo em que a aviação se expande de forma acelerada, em especial nos países emergentes.
“A previsão é de que 500 mil pilotos profissionais precisem entrar no mercado nos próximos 20 anos no mundo todo para atender à demanda por transporte aéreo. Uma hora de treinamento num FFS custa US$ 500, estima-se que no mínimo são US$ 35 mil gastos com simulador na formação de um piloto”, afirma Sousa. “Como parte desse treinamento dispensa a complexidade do FFS, faz sentido para as empresas, especialmente em expansão, incorporar FTDs”, prossegue. O preço de venda de um FTD varia de U$ 500 mil até U$ 1,5 milhões, contra US$ 15 milhões de um FFS.

A startup de Campinas espera apresentar o produto ao mercado a partir de 2018, atendendo primeiro a companhias aéreas nacionais e depois a empresas americanas que usam os aviões da série E1, da Embraer, como o E175 e o E195.
“Fizemos uma análise de todas as empresas brasileiras do setor de simuladores e escolhemos a VA porque é a melhor”, afirma João Lopes Filho, diretor da Portcapital, gestora do Fundo Aeroespacial. “O produto tem um grande potencial de exportação.”

SOBRE A VA
A Virtual Avionics nasceu em 2014 a partir de um hobby. O engenheiro eletrônico Amauri Sousa, aficionado por aviação e simuladores de voo, desenvolveu um piloto automático (MCP) e um aplicativo chamado Virtual CDU (Control Display Unit) para melhorar a própria experiência de voo e as de outros usuários domésticos de simuladores. Juntamente com os engenheiros Ricardo Dutra e Helton Volasco, ele fundou a empresa, inicialmente voltada para produtos para o consumidor (B-to-C).
Até hoje o app desempenha papel importante em vendas ao consumidor da VA, com 30 mil clientes, principalmente na Europa e América do Norte. Ele pode ser baixado nas lojas virtuais Apple e Android.

Ainda em 2014, a VA foi selecionada pelo programa Start-up Brasil para capacitação e bolsa de pesquisa e foi acelerada dentro do
programa pela aceleradora Baita. Naquele mesmo ano, recebeu um primeiro aporte de um investidor anjo de R$ 1,2 milhão que permitiu à empresa começar a desenvolver hardware e produtos B-to-B, como sistemas de desk training (simuladores de mesa) para Boeing-737 e os chamados cockpits procedurais – cabines em tamanho real com controles idênticos aos do avião.

Em 2015, como parte do Start-up Brasil, a empresa fez um roadshow no Reino Unido e nos EUA, e começou a exportar hardware B-to-C para EUA, França, Alemanha, Holanda e Reino Unido. Em 2016, iniciaram-se as negociações com o Fundo Aeroespacial, concluídas em 2017. Hoje a VA tem como clientes escolas de aviação, o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) e empresas como a Azul Linhas Aéreas e a Embraer. Saiba mais sobre a empresa em www.virtualavionics.com.br

SOBRE O FUNDO AEROESPACIAL
Criado em 2014, com R$ 131 milhões captados e prazo de oito anos, o Fundo Aeroespacial é um fundo de venture capital cuja missão é apoiar as empresas nacionais que desenvolvam tecnologia de ponta e a cadeia produtiva da base industrial dos setores aeronáutico, espacial, de defesa, segurança e integração de sistemas.
O fundo é gerido pela Portcapital e tem como cotistas a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), o BNDES, a Embraer e a Desenvolve SP. Saiba mais em www.fundoaeroespacial.com.br