por Heygler de Paula*

 

Para todas as pessoas que passam no processo seletivo do Programa StartUp Brasil eu costumo dizer que o trabalho não é nada rotineiro. É uma aventura de desbravamento de novas metodologias e jurisprudências. Isso porque se de um lado ele foi definido como uma iniciativa pioneira em 2012 e tinha como objetivo inicial apoiar o movimento de aceleradoras, por outro lado ele hoje tomou uma forma de entrega de soluções a diversos ecossistemas de inovação no país, do Amapá ao Rio Grande do Sul.

É uma política pública pioneira de iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) com uma modelagem onde startups são investidas a fundo perdido pelo Governo, desde que convençam uma aceleradora pré-selecionada a investir primeiro.

Para sua execução, conta com a Softex, uma OSCIP executora de políticas públicas do Governo Federal para o setor de TI, que auxiliou a transformar o Programa em algo mais do que um projeto de fomento, onde o Governo transfere recursos para a iniciativa privada. Ao longo dos anos, passou a ser um observatório de fatores-chave de sucesso de empresas de tecnologia, uma referência em pacotes de benefícios que fazem sentido para startups e em um selo de qualidade para aceleradoras e empresas investidas.

Turma 5

Após dois anos de pausa no Programa em razão da conjuntura vivida pelo país, a chamada para a Turma 5 foi lançada sob o olhar atento de comunidades e startups que há algum tempo esperavam pela sua volta. Cerca de 460 equipes se candidataram, das quais 50 foram recomendadas para negociar com aceleradoras.

A Turma 5 já é a mais bem aceita da história do StartUp Brasil com 46/50 (92%) de empresas investidas. Também vemos um investimento financeiro maior das aceleradoras em relação a Turma 1, com 12,7% mais em Reais investidos com uma redução de equity (de 10% para 6,5%), o que demonstra um amadurecimento do mercado que está mais propenso ao risco, mas sem exageros.

Identificamos também que 32% dos participantes (15 das 46 startups) já têm alguma receita. também há uma redução na intenção de investimento em marketplaces. No portfólio entre as turmas 1 e 4, 25% delas eram markeplaces. Já na turma 5, somente 13% são empresas que tentam fazer a ponte entre usuários e clientes.

Saúde, TI/Telecom e Educação ainda são os principais mercados. Mas temos novos segmentos que despontam cada vez mais. Hoje, Finanças e Educação são os principais mercados das empresas investidas. Sem dúvida, há muita expectativa na Turma 5, especialmente se pensarmos que na última turma acelerada há um crescimento de receitas do portfólio de 132% e que. para cada R$ 1,00 investido pelo MCTIC através de bolsas do CNPq, R$ 3,00 foram investidos por outros entes como, por exemplo, fundos de investimento.

Welcome Aboard – Turma 5

O cenário Brasileiro

O Programa StartUp Brasil é uma iniciativa pioneira de 2012. Seu maior legado – o de apoiar o movimento de aceleradoras e incentivar a iniciativa privada a investir em inovação – permanece vivo e ativo. Mas entendemos que ações adicionais devam ser realizadas. Ainda há muito trabalho a ser desenvolvido na inspiração da próxima geração, que deve ter a cultura empreendedora em seu DNA. Para isso podemos contribuir com referências para o desenvolvimento de projetos de motivação e para o entendimento cada vez maior do perfil de inputs e outputs de cada ação.

Um exemplo é o InovaMA – powered by StartUp Brasil – ação do Governo do Estado do Maranhão, através da SECTI em conjunto com a Softex, em um esforço interessante para sair da inércia e posicionar o Estado na vanguarda da economia de serviços através de projetos integrados entre universidade, empresas, co-working público aberto e investimento direto em startups.

Mesmo não estando em sua missão original enquanto executora do Programa StartUp Brasil, a Softex hoje apoia estados, municípios e corporações a desenharem e escreverem suas próprias políticas de inovação, sempre pensando em premissas que representam fatores chave de sucesso nestes projetos: (a) ações coordenadas localmente, (b) atuação nas vocações econômicas da região, (c) equipe dedicada e integrada aos projetos da Softex e à equipe do StartUp Brasil, (d) geração de densidade através da criação (ou incentivo a) de espaços de trabalho compartilhados e (e) ampla integração para gerar parcerias localmente que não sombreiem suas ações.

Ficamos felizes em poder participar da formatação e da divulgação de iniciativas nacionais como o TechD (nick para “Tecnologias Digitais Emergentes”), programa de investimento no desenvolvimento de produtos que empregam tecnologias para resolver problemas complexos do mercado, onde há a parceria entre instituições de ciência e tecnologia, universidades, corporações e startups.

Por fim, vemos uma mudança positiva no cenário brasileiro quando outras instituições especializadas estão cada vez mais engajadas. Neste item, vale a pena destacar também a ação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) de estudar e financiar provas de conceito de startups em indústrias, o ABDI Startup Indústria. Em uma iniciativa de seu então presidente, Luiz Augusto de Souza Ferreira (conhecido no meio da inovação como “Guto da ABDI”), que juntamente com uma equipe outlier em pouco tempo a agência se posicionou como executora de projetos de inovação que estão motivando a indústria brasileira a ser mais aberta com startups locais.

Os gestores dos programas estão mais especializados, com maior compreensão de mercado, mas ainda falta a adoção do mercado de inovação pela academia brasileira, uma vez que há poucos projetos de pesquisa que buscam entender histórias e métricas antes de se lançarem ao mercado. Assim, ainda há muitos, mas felizmente cada vez menos, aventureiros que vendem projetos de desenvolvimento de empresas sem um forte histórico. Vale lembrar, ainda, que a comunicação e a interoperabilidade entre programas e projetos aumentaram.

Outros destaques vão para projetos setoriais

Estes estão mudando gradativamente a forma que a inovação está presente no dia a dia. Gostaria de citar dois destaques nesta matéria. O primeiro é o Agrihub (agrihub.org.br), iniciativa da Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (FAMATO), uma ação sob execução do IMEA que busca, na ótica de produtores rurais no Mato Grosso, a supercomplexa tarefa de levar a inovação para o campo. O mais interessante é que a proposta surgiu da ótica do cliente que faz parte de um mercado conservador. Aos poucos, vemos produtores rurais do Mato Grosso sendo cada vez mais empoderados para até mesmo investir na criação de soluções e incentivados a se aproximarem.

O segundo é a continuidade do INOVABRA do Bradesco, que foi um programa de integração pioneiro em um mercado igualmente conservador e que hoje possui um elegante espaço no centro da Avenida Paulista (SP): o Habitat. Seu objetivo é a integração entre agentes do ecossistema. Se em um primeiro momento havia a ligeira resistência de empreendedores. Hoje, há um desejo de participar.

E o futuro?

No final, continuamos com uma equipe com o fortíssimo propósito de ajudar qualquer instituição. A “nova” equipe foi contratada com experiência prática empreendedora e oriunda de diversas bandeiras (fablab, políticas públicas, IoTs, smartcities, agro, entre outros). Tenho certeza de que fará o melhor possível.

É uma pergunta constante essa sobre o futuro. Sabemos que o Programa é demandado a entregar mais resultados, mesmo em uma época onde recursos são cada vez mais escassos. Faz sentido apresentar alternativas mais eficientes e sabemos que algumas mudanças devem ser feitas para modernizar as ações no intuito de fazer com que a política pública esteja sempre atual. Por isso, estamos trabalhando ativamente para dar novas e boas notícias para a comunidade empreendedora brasileira, sempre permanecendo atentos aos movimentos do mercado.

 

*Heygler de Paula é head de empreendedorismo na Softex e Gestor Nacional do Programa StartUp Brasil.