Por Vinicius Roman*

 

Quase todas as indústrias têm sido de alguma forma desafiadas pelas startups, motivo este que tem gerado novas formas de interação entre estas organizações, denominadas Corporate Startup Engagement (CSE).

De fato, as grandes empresas enfrentam muitos desafios para desenvolver novas soluções e incorporar tecnologias externas e práticas inovadoras, em parte devido à sua inércia organizacional, estrutura complexa e pressões para excelência operacional. Por outro lado, as startups possuem uma estrutura mais leve, que permite o desenvolvimento mais ágil e eficiente das soluções, sem muita burocracia organizacional, porém com grandes limitações especialmente de capital e acesso a mercado.

Neste contexto, o estabelecimento de relações com startups é uma forma promissora para que as empresas aprendam e alavanquem sua competitividade, uma vez que as empresas iniciantes atuam como uma fonte de novas ideias e oportunidades de negócios. Além disso, as empresas podem se beneficiar da interação com o ecossistema de empreendedorismo e inovação, como um ambiente que favorece a rápida absorção de novas práticas e tecnologias.

Por outro lado, as startups também podem se beneficiar da interação direta com as empresas, uma vez que elas podem usar os recursos, o conhecimento dos funcionários e da rede para catalisar o crescimento do negócio. Assim, além de apoiar as startups na validação da prova de conceito da solução, as grandes empresas possuem uma robustez, credibilidade, maturidade de processos e uma série de outros recursos capazes de alavancar as empresas nascentes.

Diferentes estudos reforçam o potencial da relação entre empresa e startup. A pesquisa da Accenture (2015) – “Harnessing the power of Entrepreneurs to Open Innovation – The Digital Collaboration Index”, por exemplo, aponta que as grandes empresas perdem por ano até 1,5 trilhões de dólares em oportunidades de crescimento por não se associarem com startups para ganhar escala e perceber novas frentes através de parcerias em novos modelos de negócios digitais.

Ao analisar as 100 primeiras empresas listadas na Forbes é possível observar, ainda, que 67 se relacionam de alguma forma com startups, sendo que 50 delas possuem iniciativas de investimento nas empresas nascentes (Corporate Venture Capital). Um fato interessante é que muitas destas empresas investem em startups que não estão diretamente relacionadas com seu core de atuação: você sabia que a Coca-Cola, por exemplo, investiu na Spotify?

Adicionalmente, cerca de 61,7% das startups unicórnios – empresas de tecnologia que tem valor de mercado maior que 1 bilhão de dólares – mencionados pelo Wall-Street Journal tiveram investimentos levantados por pelo menos uma grande empresa, sem incluir empresas de investimento e bancos, evidenciando a importância de uma grande empresa na alavancagem e consolidação dos negócios nascentes.

Ao analisar o contexto brasileiro, observamos que a maioria das grandes empresas ainda estão praticando modalidades iniciais de engajamento com startups, com um viés mais exploratório, diferentemente das maiores empresas do ranking da FORBES. Acreditamos, entretanto, que nos próximos anos os modelos CSE irão evoluir e cada vez mais as grandes empresas buscarão formas de interação mais complexas, incluindo investimento e aquisições de empresas nascentes de maneira estruturada e contínua em nosso país.

Mas antes de sair criando ou participando de iniciativas CSE, tenha em mente que não existe sucesso sem esforço! A colisão entre esses dois mundos (grandes empresas e startups) envolve um choque de cultura que necessita de muito cuidado para render bons frutos. Apenas a conexão empresa-startup não é garantia de sucesso, muito pelo contrário, pode gerar frustrações e ser prejudicial para ambas. É necessário compreender muito bem as expectativas e formas de operação de cada parte e criar mecanismos eficientes com foco em resultados.

Você tem interesse em mergulhar nesse novo mundo? Não perca nossos próximos posts nos quais iremos analisar a troca de valor entre as startups e as empresas em iniciativas CSE, bem como descrever os principais objetivos e formas de engajamento entre empresas e startups.

 

*Vinicius Roman é Engenheiro de Produção (UFMG), com MBA em Engenharia e Inovação e Mestrado em Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual (UFMG). É sócio-fundador e diretor da Techmall, aceleradora que já apoiou o desenvolvimento de mais de 400 startups e diversos programas de CSE nos últimos anos.